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segunda-feira, 27 de julho de 2009

A caridade na verdade como força propulsora do desenvolvimento.
Dr. Frei Antônio MoserTeólogo

''O verdadeiro progresso remete sempre para a justiça e a caridade; e justiça e caridade remetem forçosamente para Deus e seus planos de amor''

Até há pouco quem na Igreja falava sobre desenvolvimento, logo pensava na importante Carta Encíclica Populorum Progressio do Papa Paulo VI. O ressalto de que só existe verdadeiro progresso onde a tecnologia for associada à humanização se tornou um marco histórico no contexto dos Ensinamentos Sociais da Igreja. Seguida por vários outros documentos do gênero, escritos pelo Papa João Paulo II, tinha-se a impressão de que pouco sobraria para dizer sobre o desenvolvimento humano. Por isso a temática da nova Encíclica do atual Papa Bento XVI causou uma surpresa inicial.
E no entanto, outras surpresas aparecem na medida em que se vai lendo a "Caridade na Verdade". Claro que ela resgata os ensinamentos dos antecessores, e sobretudo da referida Encíclica de Paulo VI. Entretanto, muitas são as angulações que trazem a marca registrada do atual Papa teólogo. Eis algumas que nos parecem mais significativas.
A primeira: por mais que devamos nos alegrar com os progressos científicos e tecnológicos, nunca deveremos esquecer a força de "messianismos fascinantes, mas construtores de ilusões". O verdadeiro progresso remete sempre para a justiça e a caridade; e justiça e caridade remetem forçosamente para Deus e seus planos de amor.
A segunda surpresa aparece no reconhecimento de que há lugar para o lucro e a produção da riqueza, mesmo no contexto de um capitalismo globalizado, desde que o motor seja o amor de partilha, no sentido mais amplo e profundo do termo. É nesta direção que as empresas poderão sofrer uma profunda reegenharia, na medida em que junto com a inclusão social, propiciarem a inclusão relacional. Ou seja: as empresas não podem colocar em primeiro lugar produção e lucro, mas criar espaço para novas relações que se traduzem em partilha nos esforços e nos resultados conjuntos.
A terceira surpresa aparece em certas frases contundentes como essa: "a sociedade globalizada nos torna vizinhos, mas não nos faz irmãos". É que as determinantes da sociedade globalizada não parecem ser as que de fato são as mais decisivas para o verdadeiro progresso humano: solidariedade, subsidiariedade, diálogo e colaboração fraterna.
A quarta surpresa: as novas condições históricas criadas pelo avanço científico e tecnológico já não permitem que se pense em mero assistencialismo para suprir as necessidades básicas de milhões de pessoas famintas. Pelo contrário, existe um assistencialismo que humilha os necessitados, priva pessoas e famílias de sua liberdade e criatividade. Como também certas ajudas internacionais “independentemente da intenções dos doadores, podem por vezes manter um povo num estado de dependência e até favorecer situações de sujeição local e de exploração dentro do país ajudado”.
Uma quinta surpresa pode ser encontrada na insistência sobre a necessidade de uma reforma tanto na organização das Nações Unidas, quanto na arquitetura econômica e financeira internacional. E mais: as novas condições econômicas e sociais exigem a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial para gerenciar de maneira mais adequada um mundo tão complexo.
E poderíamos enumerar muitos outros aspectos que, embora nem sempre novos, se revestem de uma nova tônica, tanto sob o prisma antropológico, quanto teológico. E por isso mesmo a Encíclica vai com mais força ainda se transformar num apelo para que os cristãos, em diálogo com todas as pessoas de boa vontade, se empenhem com mais decisão para que o fascínio exercido pela técnica não faça desaparecer a importância decisiva da ética e da espiritualidade.
Com isso também fica claro que não existe humanismo onde Deus e seus planos são excluídos dos projetos humanos. O verdadeiro humanismo será sempre fruto do esforço humano solidário e movido pelo amor-caridade, que revela a verdade mais profunda dos seres humanos, enquanto se abrem para a Verdade que é Deus.

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